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domingo, 12 de março de 2017

Divagação científica - divulgando ciências cientificamente 29

Minhas anotações do trabalho de Sumner et al. 2016 sobre uma das origens do sensacionalismo na cobertura de trabalhos sobre saúde.

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Sumner P, Vivian-Griffiths S, Boivin J, Williams A, Bott L, Adams R, et al. 2016. Exaggerations and Caveats in Press Releases and Health-Related Science News. PLoS ONE 11(12): e0168217. doi:10.1371/journal.pone.0168217

534 press-releases (comunicado de imprensa) de pesquisas biomédicas e de saúde de trabalhos publicados em revistas científicas líderes foram analisados, bem como os 534 trabalhos a que os press-releases se referem e 582 notícias da imprensa britânica a respeito dos artigos publicadas durante o ano de 2011.

Os press-releases foram coletados de repositórios de acesso aberto ao público (como EurekAlert) ou somente para jornalistas.

Os artigos analisados foram publicados nos seguintes periódicos: BMJ, Science, Nature, Nature Neuroscience, Nature Immunology, Nature Medicine, Nature Genetics.

Os textos noticiosos foram buscados no banco de dados Nexis, do Google, do site da BBC (www.bbc.co.uk) e da Reuters (uk.reuters.com).

As análises dos textos dos artigos, press-releases e nos jornais focaram quando a conselhos de saúde dados (sem conselho, conselho implícito, explícito mas não para os leitores ou para o público em geral, e conselhos explícitos para os leitores ou para o público geral), alegações causais (sem alegações, afirmação de ausência de relação, correlacional, ambígua, causação condicional, de que pode causar, e alegação de causa e efeito) e conclusões baseadas em pesquisa com humanos ou com sistemas não-humanos (frases indicando que a pesquisa foi realizada: explicitamente em sistemas não humanos como animais, células ou simulações; implicitamente em humanos; explicitamente em humanos). Outra característica analisada é se havia ressalvas ou justificativas.

Frequência de exageros
Conselhos
23% (IC: 17~28%) dos press-releases exageravam nos conselhos presentes nos artigos (conselhos mais diretos ou explícitos do que os sugeridos no trabalho científico).
Causação
21% (15~27%) dos press-releases de artigos correlacionais exageravam na alegação de causação.

Em trabalho anterior do grupo, press-releases das universidades apresentaram índices de exageração mais altos: 40% (33~46%) e 33% (26~40%), respectivamente. (Como as análises são realizadas somente comparando-se alegações feitas explicitamente e não entre as alegações e o que os próprios dados dizem, é possível que o nível de exagero real seja mais baixo do que o detectado: o exagero estaria já nos próprios artigos científicos.)

Exagero do press-release e na notícia
Houve uma forte associação entre o exagero no press-release o exagero na notícia.
Conselhos
27% (22~33%) das notícias exageraram no conselho em relação ao artigo e a probabilidade de ocorrer esse exagero era 2,4 (1,3~4,5) vezes maior quando o press-release também exagerava (46%, IC:32~60%) do que quando não (25%, 19~31%).
Causação
Nos casos de afirmações de correlação, 38% (27~51%) exageravam a causação e a probabilidade era 10,9 (3,9~30,1) vezes maior disso ocorrer quando havia (80%, 63~91%) exagero no press-release do que quando não havia (26%, 18~38%). Padrão similar ao encontrado em outro estudo com press-release de universidades.

Exagero e cobertura
Não houve uma maior cobertura midiática de artigos com press-release exagerados.
Conselhos
53% dos press-releases sem exagero nos conselhos tiveram os estudos noticiados, contra 34% dos press-releases com exagero (diferença de -19%, -5~-34%); a média de artigos noticiosos a respeito de trabalhos com press-releases sem exagero foi de 3,5 notícias, contra uma média 3,0 notícias de press-releases exagerados (IC: -1,5~0,6).
Causação
No exagero de causação, 49% dos press-releases sem exagero foram noticiados, contra 66% dos exagerados (17%, -1~35%); 3,1 notícias cobriram estudos com press-releases sem exageros sobre causas, contra 3,0 de press-releases que cometiam exagero (-1.2~1.2).

A ausência de associação entre exagero do press-release e cobertura da imprensa também espelhou estudo anterior com press-releases de universidades.

Ressalvas ('caveats')
Conselhos
15% dos press-releases apresentavam ressalvas quanto aos conselhos.
Causação
14% continham ressalvas quando às correlações.

Ressalvas nos press-releases e cobertura noticiosa
Não foi encontrado nenhuma relação entre a presença de ressalvas e a cobertura noticiosa.
Conselhos
Foram noticiados 48% dos press-releases com ressalvas quanto ao conselho contra 56% dos sem ressalvas (-28~12%).
Causação
63% dos press-releases com ressalvas quanto à causação foram noticiados, contra 47% dos sem ressalvas (3%~29%).

Ressalvas nas notícias
Conselhos
14% das notícias continham ressalvas quanto aos conselhos.
Causação
18% das notícias continham ressalvas quanto às correlações.

Ressalvas nos press-releases e nas notícias
A presença de ressalvas nos press-releases aumentam as chances de as notícias reportarem essas ressalvas
Conselhos
A probabilidade de haver ressalvas sobre conselhos nas notícias era 9,5 (2,8~32) vezes maior quando o press-release continham ressalvas (47%, 20~74%) do que quando não tinha (8.5%, 4,4~13%).
Causação
A probabilidade de haver ressalvas quanto à causação foi 7,6 (4,2~14) vezes maior quando o press-release fazia a ressalva (46%, 35~57%) do que quando não (10%, 6,5~13%).

Não se encontrou associação entre ressalvas e maior ou menor exageros nas notícias.

Justificativas
Conselhos
A jusrtificativa para os conselhos estive presente em 10% dos press-releases.
Causação
A justificativa para afirmações sobre causalidade ou correlação foi apresentada em 21% dos press-releases.

Justificativas e cobertura midiática
Não houve uma relação entre a presença de justificativas nos press-releases e a cobertura midiática.
Conselhos
74% dos press-releases com justificativas para os conselhos foram noticiados contra 53% dos press-releases sem justificação. (-2~41%)
Causação
43% dos press-releases com justificativas para as afirmações sobre correlações e causas foram noticiados contra 54% dos sem justificativas. (-15~2%)

Justificativas nas notícias
Conselhos
16% das notícias apresentavam justificativas quanto aos conselhos.
Causação
13% das notícias apresentavam justificativas quanto às afirmações de causação.

Justificativas no press-release e e nas notícias
A presença de justificativas nos press-releases aumentou a presença delas nas notícias.
Conselhos
As chances de se noticiarem as justificativas dos conselhos foram 6,1 (2,0~18) vezes maiores quando o press-release trazia justificativa (42%, 19~66%) do que quando não trazia (11%, 5,5~16%).
Causação
As chances de se noticiarem as justificativas das afirmações de causa foram 23 (11~50) vezes mais altas quando o press-release justificava (48%, 34~64%) do que quando não justificava (3.8%, 1,8%~5,8%).

A presença de justificativas sobre conselhos foi associada com notícias que exageravam os conselhos. Por outro lado, a de sobre causa e efeito foram foi associada com notícias que não exageravam, trazendo alertas de cautela.

via Dayane Machado fb.

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