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sexta-feira, 5 de junho de 2015

Divagação científica - divulgando ciências cientificamente 22

Um tema muito debatido nos estudos sobre divulgação científica é o chamado "modelo do déficit". Há uma variação em torno do que se entende pela expressão, mas uma das definições consiste na hipótese de que há uma correlação positiva (causacional?) entre "conhecimento científico" e "atitude em relação às ciências". Isto é, as pessoas tendem a ter uma visão mais positivas em relação à prática científica quanto maior seu conhecimento sobre ciências.

Muitos pesquisadores da área e divulgadores de ciências, especialmente os que têm uma formação mais afim das Humanidades (jornalistas, cientistas sociais, historiadores...) e, em menor grau, de Ciências da Vida e Saúde (biologia, medicina, psicologia...), tendem a rejeitar o modelo.

Nick Allum e cols. 2008 resolveram colocar a questão à prova em uma base mais sólida. Fizeram um estudo de meta-análise compilado dados para várias culturas.
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Allum, N. et al. 2008. Science knowledge and attitudes across cultures: a meta-analysis. Public Understanding of Science 17(1): 35-5. doi: 10.1177/0963662506070159.

18 palavras-chaves foram utilizadas para se buscar por artigos em bancos de dados como o ISI Web of Knowledge, Medline, Google... “public”, “science”, “knowledge”, “citizens”, “understanding”, “technology”, “survey”, “biotechnology”, “awareness”, “environment”, “risk”, “perception”, “measurement”, “genetic”, “literacy”, “opinion”, “engineering” e “attitudes” com conectores "and" ou "or".

Dos 300 artigos, relatórios e outros resultados, 193 amostras de dados foram selecionadas (com base em se as amostram eram aleatórios e representativas de populações em nível nacional) abrangendo 40 países e cobrindo os anos de 1989 a 2004.

As escalas de conhecimento científico puderam ser classificadas em duas categorias abrangentes: conhecimentos científicos de livros-textos gerais de ciências e conhecimento sobre biologia e genética (como "tomates comuns não contêm genes, enquanto tomates geneticamente modificados têm").

As escalas de atitude incluíam 5 grandes áreas: 1) ciência em geral, 2) energia nuclear, 3) medicina genética, 4) alimentos geneticamente modificados (OGMs) e 5) ciências ambientais.

Corrigindo para idade, sexo e escolaridade, a relação geral entre conhecimento e atitude foi baixa (0,08) mas significativa (a alfa=5%). Foi significativamente negativa para atitudes sobre OGMs e ciências ambientais. E quanto maior o conhecimento de biologia/genética mais negativa a atitude em relação às ciências. Quanto maior o conhecimento sobre biologia, melhor a atitude em relação aos OGMs e às ciências ambientais.

Pessoas com formação no ensino superior tiveram uma melhor atitude em relação às ciências.

Corrigindo para fatores como PIB per capita, acesso à internet, número de pessoas com ensino superior, os americanos foram os que apresentaram a melhor atitude em relação às ciências entre as populações analisadas no levantamento; os gregos, a pior.

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Infelizmente, o Brasil não esteve entre os países analisados. O que não surpreende, dada a falta de estudos de abrangência nacional que contemplem tanto as atitudes (foco dos levantamentos do MCTI) quanto o conhecimento (foco do estudo da Abramundo). Estudos que contemplam as duas dimensões são apenas regionais, como o do Labjor (estado de São Paulo). (Sim, um dia compilo os dados da pesquisa GR, mesmo não tendo representatividade nacional.)

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